Ora aqui está um post que nunca me ocorreu que pudesse vir a escrever… A edição 2008 do Lisboa-Dakar foi cancelada. Tremem-me as mãos enquanto digito no teclado do computador esta frase, tão incrivelmente curta, fria e cruel. Como jornalista, a trabalhar dia-a-dia junto das aventuras do desporto automóvel, numa viagem constante que tantas vezes atravessa os caminhos do todo o terreno, esta é talvez uma das mais desconcertantes notícias que já me foi dada. Ironicamente, estudei para poder ser eu própria a dar essas mesmas notícias difíceis…
A frustração de quem se preparava para acompanhar uma prova mundial, assim como pôr no papel todas as ideias, factos e curiosidades simbólicas de um Dakar, desvaneceu-se. Na folha fica um espaço em branco e na alma, um vazio. O meu primeiro Dakar como jornalista não passou de uma mera possibilidade. Tenho dentro de mim a frustração de uma profissional de comunicação, ainda menina, pouco habituada a gerir este tipo de emoções. Uma das pessoas que tanto me ensinou, e tem ensinado, nesta dura profissão deixou escapar um desabafo à altura do meu desalento. “Era a tua primeira vez como jornalista a acompanhar o Dakar e era a primeira vez, em mais de 20 anos de prova, que estaria em Dakar para ver a caravana chegar”. Era… A imposição de usar este verbo no passado, retira-me a última gota de esperança de que tudo não tivesse sido apenas um pesadelo, como tantos outros que nos percorrem as horas de sono e que se desvanecem com um acordar turbulento. Não é sonho, é absurdamente real! Talvez não faça sentido tanto drama. É um facto. Para mim tem toda a lógica. Uma lógica só passível de ser entendida por alguém como eu que gosta do que faz, não importa a precariedade do trabalho, a instabilidade do emprego, o ordenado tão miseravelmente desajustado, a vontade (tantas vezes) frequente de desistir, de mudar de rumo… Para mim, menina-mulher, rendida à paixão do jornalismo, esta foi uma grande perda.
Inquietam-me agora outras questões. Quando uma “ameaça” terrorista impede a acção, o desenrolar de uma das maiores provas desportivas do mundo, então significa que a guerra está ganha, mesmo antes de se partir para um “campo de batalha”. Terrivelmente assustador. Abriu-se um precedente histórico e político grave! Trilhou-se um caminho que talvez não tenha volta… Assim como talvez não regresse uma das mais míticas provas do todo o terreno mundial.
Desmedidamente desapontada,
Joana