Aos 25 anos... Parte II

... No dia do aniversário da minha mãe, dia 22 de Novembro, lá fui eu, levada pelo meu tio e seguida bem de perto pelo João, pela minha tia e pelo meu avô materno até junto do meu novo avô. Estava a trabalhar na quinta e tudo o que eu conseguia ver, à medida que ia caminhando, era um monte de silvas. Soube depois que o meu avô pensava que eu só iria no Domingo e que não estava preparado para me ver. Nem eu, confesso! Uns metros antes do sítio onde o ia conhecer começaram a faltar-me as forças nas pernas e desatei num choro compulsivo. Só conseguia pensar no que é que lhe ia dizer... Acalmei-me e avancei. Assim que o vi, arrepiei-me da cabeça aos pés. Era igualzinho ao meu pai! Ou melhor, o meu pai é igualzinho a ele! Sorri e com os olhos carregados de lágrimas soltei um tímido «Olá avô...» Ele abraça-me, dei-lhe dois beijos e não consegui dizer nada por uns largos segundos. À minha volta conseguia olhar para os meus tios, para o João e para o meu outro avô, todos com as lágrimas nos olhos... E eu ia tentando limpar as minhas, inutilmente. Foi uma grande emoção. Fiquei muito tempo a mirar-lhe os traços. As sobrancelhas dispostas de forma igual às do meu pai, os mesmos olhos grandes ( embora não fossem azuis), as mãos com os dedos grossos, o cabelo grisalho... O meu avô era como eu tinha imaginado. Assim que consegui compor-me, disse-lhe que ele tinha outra neta, que não tinha conseguido vir, mas que lhe tinha mandado um grande beijo. «É professora, avô!», disse-lhe eu, para logo de seguida informá-lo de que eu era jornalista! Sorrimos...
Quando ele conheceu o João, achou piada ao facto de ser um João e uma Joana, notei-lhe um ar enternecido. O meu outro avô apressou-se a chamar-lhe compadre e cumprimentou-o com um forte aperto de mão. Eu sentia-me ali mas sem estar... Foi estranho.
Depois de quebrado o gelo inicial, o meu avô disse-me que guardava duas fotografias, uma minha e outra da minha irmã, com ele. Eu devia ter uns 9 anos e ela uns 13. Estávamos diferentes... Apressou-se a dizer-me que queria esquecer o passado e que a vida era feita de encontros e desencontros. Quase como se estivesse a desculpar-se. Naquela altura todas as explicações deixavam de fazer sentido! Disse-lhe que a partir de agora dependia de nós mantermos contacto. Disse-lhe que ele tinha de ir a Setúbal e que tinhamos muito gosto em recebê-lo. Sem hesitar, fitou-me e apressou-se logo a dizer que ia para o casamento! Ahahah! ( Por esta altura, eu e o joão pareciamos uns tomates!) Voltámos a rir em sintonia. O tempo passou a correr... Aquele cenário de silvas, onde se deu o reencontro, quase que parecia uma restrospecção das nossas vidas! O terreno precisava de ser limpo para que se começassem a colher e semear carinhos...
Fizemos-lhe o convite para que fosse jantar a casa dos meus tios, já que era o aniversário da minha mãe, e o meu pai estaria lá. Nem pestanejou e disse logo que ia. Estava contente, o velhote! Os olhos bilhavam com aquele brilho que, até à altura, só conhecia no meu pai. Passados 50 anos, os dois iam ver-se!
( Continua... )

1 comentários:

sandraalmeida disse...

Ó amiga... estou a AMAR a tua linda história!!!

Conta mais... muito mais... E RÁPIDO!!!