Aos 25 anos... Parte III

... À medida que íamos saindo dali, eu sentia uma sensação de "missão cumprida" juntamente com um arrepio na espinha, que discretamente me dizia que lá do alto alguém me observava com orgulho. Esse alguém era a minha avó, tenho a certeza, feliz por finalmente eu ter conhecido o grande amor da vida dela.
O meu tio voltou a levar-me pelo braço, desta vez no caminho inverso, aproveitando para me mostrar a quinta. Havia um pouco de tudo lá semeado: cebolas, batatas, cenouras, feijão verde. Numa outra parte havia um espaço com patos e galinhas e , ao fundo, uma mini adega onde o meu avô se diverte a fazer vinho. O João provou um golo fugidio mas, ao que parece, ainda não estava no ponto e tinha de continuar em maturação. Tal como a minha relação de neta com este novo avô...
Antes de chegarmos ao carro, reparei que havia uma caixa coberta de maçarocas de milho e não hesitei em levar uma de recordação. Estava feliz mas por esta altura começava a ficar nervosa com o encontro do meu avô com o meu pai, 50 anos depois... Só conseguia pensar no que é que um pai diz a um filho que não conheceu, com quem não privou, que não viu crescer, que não o levou pela mão nas primeiras brincadeiras... Apressei-me a fazer um telefonema. «Pai, já conheci o avô... É tão parecido contigo!" disse-lhe com carinho. Do outro lado, a sua voz insegura antecedia um dos momentos mais ternos que me lembro de presenciar.
Ajudei a minha tia a preparar o jantar e assim que os meus pais chegaram, o meu tio levantou-se para ir buscar o meu avô à quinta. Estava quase... Estava quase... O meu pai tinha um ar nervoso mas com a calma que sempre lhe conheci. Estávamos todos na sala quando o meu tio chegou com o meu avô pelo braço. O meu pai levanta-se e abraçam-se os dois. ( Como estava ao pé da lareira acho que nesta altura uma fagulha tinha entrado no meu olho) Foi bonito.... Foi intenso... Foi autêntico...Foi um reencontro que já devia ter acontecido há tempo demais mas que só ganhou forma depois de 53 anos de vida. Jantámos harmoniosamente e com uma grande alegria. Fiz questão que o meu avô se sentasse a meu lado e na frente do meu pai. As conversas iam seguindo sem rumo, muitas vezes os assuntos não surgiam (valia o meu outro avô que, como bom alentejano, arranjava sempre um assunto do passado para reflectir) e eu divertia-me a observar o meu novo avô, registando fotograficamente cada traço, cada ruga, cada detalhe.... Quando terminámos, voltámos para a sala. O meu pai e o meu avô sentaram-se lado a lado no sofá e, estrategicamente, acabámos por deixá-los sózinhos. A conversa entre os dois estava travada há mais de 50 anos e ambos pensaram que não haveriam de estragar aquele momento com culpas, desculpas e porquês. Compreendi. Aliás, tratando-se do meu pai não esperava algo diferente. O resto do serão foi passado à lareira com o meu avô a recordar histórias que, para nós, eram completamente novas. O mais engraçado era constatar que em cada episódio, já tinha ouvido algo semelhante contado pelo meu pai! Tal pai, tal filho! Definitivamente!
Foi um dia inesquecível! Foi um dia que vou guardar para sempre no meu coração. Foi o dia em que conheci o meu avô com a sensação profunda de que o conheci desde sempre.
FIM

3 comentários:

Catarina disse...

Ai Joana, que história linda, estou que nem posso!!!!
Que bonito, a sério! Estas coisas emocionam-me demais!!!

Um beijinho grande para ti... para vocês!

Dona Mãe Babada disse...

dava um livro para a minha editora eheheheh

sandraalmeida disse...

Joana... opá estou aqui sem palavras e tu sabes que é quase impossível isso acontecer!!!

Que bom terem reencontrado o Avô!!!

Não o deixes fugir nunca mais!!!

Um beijo titânico para ti e para a tua família que é tão bonita!!