Desculpem se vos assustei

Não era minha intenção.

Não quero nem saber as barbaridades em que ficaram a pensar... Eu também fui responsável por esse mal entendido, pois não me expliquei bem. Aliás, ultimamente parece que é algo que se repete na minha vida. Ou não me explico bem (o que é provável) ou as pessoas compreendem da forma que lhes dá jeito (o que também é provável).

Passo a explicar... O que acabou foi um projecto grandioso, de nome Associação Artémis, mas que continuará vivo graças ao esforço conjunto de mulheres que recusam render-se ao silêncio. Estou incluída neste grupo. Estarei sempre! E até que me consumam todas as forças, assim será! Desculpem o desabafo anterior, que não chegou a ser desabafo nenhum pois, tal como vos escrevi, não conseguia colocar os meus sentimentos em palavras. E ainda não consigo fazê-lo. Ser voluntária numa associação é algo que nos dá e suga forças. Acho... Ou melhor, estou certa de que no caso da Artémis as dádivas foram sempre maiores. Pode até ter havido um fim deste projecto, enquanto estrutura, mas na minha vida nunca lhe colocarei um ponto final. Nunca.

Quem me lê, quem me conhece, quem ouviu falar de mim sabe o quanto me custou perder o meu sobrinho. Para quem não sabe, o coração do Tiago deixou de bater, ainda na barriga da minha mana, às 39 semanas de gestação. Um dia antes da data prevista para induzir o parto... Ao contrário do que sempre pensei, não me foi dada a oportunidade de conhecer o meu primeiro sobrinho mas a sua partida trouxe pessoas especiais demais à minha vida. Tudo aconteceu no dia 11 de Abril de 2008. Um dia que vai ficar para sempre nas nossas memórias.

Hoje, a barriga da minha irmã está de novo com lotação esgotada. Vem um Afonso a caminho! Um guerreiro de nome e de alma! Um bebé desejado, fruto da esperança e da força que recolhi ao longo do último ano na Associação Artémis e que em grandes quantidades fui levando à minha irmã, ao meu cunhado, à minha família, ao mundo! Essa mesma associação, onde tantas vezes fui "beber o sumo" da esperança, acabou. (Não me peçam para falar das razões que a condenaram a este desfecho, pois corro o risco de me tornar injusta ou incompreendida). A verdade é que senti esta perda com uma intensidade muito forte. Senti, porque sem a Artémis talvez não me tivesse erguido, talvez não tivesse tido forças para ajudar a minha mana, talvez não tivesse conhecido heroínas que me ensinaram a lutar, talvez tivesse desistido...

Como posso ficar indiferente face ao terminar de algo que me foi tão querido e pelo qual tanto me esforcei? Não posso. Simplesmente, não posso.

Da minha parte vou fazer de tudo para que haja informação sobre esta realidade, sobre este lado negro da maternidade. Da minha parte vou lutar com afinco para que projectos de voluntariado, na área da perda gestacional, como aquele que existe em Braga no S. Marcos (conquista da Artémis) passem a ser a regra e não a excepção.

Da minha parte, cada vez que uma mãe precisar de ajuda para lidar com esta dor impiedosa, eu estarei pronta para a ouvir.

Da minha parte, nem que seja à distância de um fórum público http://perdagestacional.forumeiros.com/ estarei sempre presente. Da minha parte, prometo-vos que vou continuar a homenagear o Tiago, ajudando...

Apesar de toda esta onda de consternação que varreu um projecto, o tema da perda gestacional chegou uma vez mais à televisão. Digam-me lá se estas mulheres são ou não são verdadeiras guerreiras? http://www.fatima.tv/ - Maternidades Fugazes

Sandra e Vera, a minha sincera e profunda homenagem às Mulheres com M grande como vocês!

Um beijo grande para todas e obrigada pelo vosso carinho.

Novidade fresquinha: O meu sobrinho Afonso pesa 300g, na última ecografia estava com um ataque de soluços e está tudo bem com ele e com a mamã! Em Maio, chega a ecografia morfológica. Depois dou novidades.